Em primeiro lugar, quero deixar claro
que entendo a democracia, em seu conceito original de “governo do povo”, como
uma grande utopia. O povo nunca governa,
ele apenas escolhe quem vai lhe governar. Mas, mesmo assim, dentro dessa “democracia”
que vivemos existe a necessidade da participação e da contribuição das igrejas
cristãs. Segundo a definição de Jürgen Habermas ”as decisões políticas sempre
devem estar sujeitas à revisão perante a instância da opinião pública”. Porém
cabe ressaltar que a contribuição e a participação das igrejas cristãs são, ao
mesmo tempo, necessárias e perigosas. Trata-se de um dilema contemporâneo.
Porque é necessária? Porque a igreja
não pode ser uma instituição contemplativa, apenas observando os movimentos e
discussões da sociedade em sua esfera pública. Acho fundamental que as igrejas
cristãs atuem e auxiliem os cristãos tanto nas suas necessidades quanto na sua
formação. O cristão deve ser um cidadão consciente, participativo, engajado nas
necessidades da comunidade. Uma voz ativa, não apenas contemplativa. Mas uma
voz capaz de discutir com a sociedade as soluções para suas necessidades. Não
adianta ter o desejo de manifestar seus interesses e opiniões se não for capaz
de se fazer entender. E esse é o papel das igrejas cristãs: formar esse caráter
participativo nos seus membros, formar homens e mulheres de Deus, que sejam
atuantes e influenciadores da sociedade na nossa geração.
E qual o perigo dessa participação?
O perigo é “exagerar na dose”, tornando-se uma igreja cristã atuante na
sociedade, mas que se afasta da sua principal missão: pregar o Evangelho. O
papel da igreja como organização é o de formar, atuar socialmente, mas tendo
como objetivo principal “pregar a Cristo”. Não se pode perder o foco de nosso
verdadeiro e principal chamado, mas também não se pode negar que nossas
atitudes “falam” mais alto que nossas palavras.
Igreja não pode se tornar palanque
político. Não podemos confundir a atuação social e a formação, até mesmo
política, de seus membros com uma “atuação política”. Contribuir com a
democracia é participar das discussões e decisões da sociedade, e não lançar
seu candidato, que vai “defender os interesses da Igreja”. A Igreja de Cristo
não precisa de “defensores”, que vão “zelar pelos seus interesses”. Não estamos
no tempo das cruzadas e esse não é o significado real de defender a fé cristã.
A
grande contribuição que a Igreja tem a dar chama-se “Evangelho” e colocá-lo
plenamente em prática é o seu grande desafio.