sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EU SOU DE CARNE E OSSO. SABIA?

Eu sou de carne e osso, sabia? Eu sinto dor, angústia, tristeza. As vezes, eu me magôo e até perco a esperança. Enfim, eu sou uma pessoa normal. Tenho dias bons e dias ruins. Alguns dias, tudo se encaixa e eu fico muito empolgado. Mas, em outros... tudo parece tão difícil que eu me desanimo. Será que isso só acontece comigo? Você alguma vez se sentiu assim?
Talvez você não se lembre de mim, mas no último domingo eu estava sentado ao seu lado na igreja. Eu tenho esperança que você se lembre porque nós oramos juntos de mãos dadas quando o pastor falou. Tudo bem que no final do culto você virou as costas e foi embora. E nem me falou seu nome ou perguntou o meu. Como você diz que ora por mim, mas nem se interessa em saber quem eu sou ou que estou passando?
Mas, no próximo domingo eu estarei de novo na igreja. E, se eu me sentar ao seu lado espero que se lembre de mim e que possa fazer que eu não me sinta “invisível”.  E que no final do culto você possa me dar um sorriso sincero e me chamar de irmão. Mas, que isso seja verdadeiro e não um costume da igreja.

Esse texto é, de certa forma, hipotético. Não se trata de um personagem real, no entanto bem que poderia ser. Porque não é exatamente isso que temos visto em muitas de nossas igrejas? Quantos irmãos “invisíveis” tem frequentado nossas igrejas? Quantas vezes nós ficamos tão envolvidos com nossos próprios problemas e esquecemos que tem gente sofrendo perto de nós. Quantas vezes nossa oração se torna apenas um ritual vazio em uma reunião que nem me atrai?

E quantas vezes nós mesmos estamos sofrendo e procurando nos passar por fortes porque “se eu falar das minhas fraquezas vão achar que eu não tenho fé”. Chega de viver de aparências!

Igreja não é lugar de personagens, nem uma terra de faz-de-conta. Não é um mundo encantado em que tudo dá certo e quando eu saio de lá eu volto para o mundo real. A Igreja é um povo que se reúne para glorificar o nome do Senhor e para comungar da sua fé.

Igreja é o lugar de gente doente, sofrida, discriminada, angustiada e até esquecida mas que tem no seu convívio e no  partilhar do pão a sua fé renovada. E o amor de Deus se manifesta no nosso amor uns pelos outros.

Igreja é lugar de gente. E gente imperfeita, que erra, que falha e que precisa da graça de Deus. É lugar de gente fraca, que tem a sua força na Graça do Senhor. É o lugar de alegrar-se com os que se alegram e de chorar com os que choram (cf. Rm 12.15).

Mas, tudo isso começa quando eu entendo que posso sim, sofrer, chorar, me angustiar. Quando eu entendo que eu sou de carne e osso, e estou sujeito às mesmas dificuldades e desventuras que qualquer outro, pois o sol se levanta sobre os bons e os maus e a chuva desce sobre justos e injustos (cf. Mt 5.45). Porque se eu me tornar insensível à minha dor, como poderei me sensibilizar com a dor do meu irmão?


Igreja é lugar de gente!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O MISTÉRIO (E O MINISTÉRIO) DA IGREJA

Sinceramente, para mim, a Igreja é um mistério.  Como Deus decidiu fazer sua obra através de homens e mulheres imperfeitos. Não, Ele não precisa, nem depende de nós. Ele poderia fazer sozinho mas decidiu não fazê-lo assim. Deus decidiu fazer através de nós.

E quando eu olho para a vida de Jesus isso me deixa ainda mais maravilhado. Será que ele precisaria ser batizado ou dependia da “ajuda” dos seus discípulos? Não, mas ele estava nos dando o exemplo de como devemos caminhar. Nossa salvação depende disso? Claro que não, nem de nós ela depende. Ela é fruto do amor, da misericórdia e da maravilhosa graça do Senhor. Exclusivamente! Mas, a nossa caminhada é comunitária.

Jesus não dependia dos discípulos, nem da fé deles, para fazer nada do que fez. Aliás, se dependesse da fé dos discípulos, a multidão teria morrido de fome (Marcos 6), o cego no tanque de Siloé (João 9) continuaria cego e com o dilema: “De quem é a culpa?”. Mas Jesus chamou doze, e depois setenta, e fez a obra com eles e a partir deles o Evangelho chegou até nós. E Ele continua a agir assim, em nós e através de nós. A parte que nos cabe é crer e assumir nossa responsabilidade.

Fomos chamados para ser Igreja, para ser parte do Corpo Dele (que é a cabeça), para ser a “plenitude daquele que enche a tudo e todos” conforme Efésios 1. E nós também não faremos isso sozinhos. Não dá para ser igreja sozinho. É impossível ser corpo sem fazer parte dele, não há vida.

Eu me lembro que os dias mais difíceis da minha vida até hoje foram os em que eu estava sozinho. E eu nunca estive afastado do Senhor, nem deixei de freqüentar as reuniões da Igreja. Mas, eu não fazia parte. E não queria fazer. Por causa de experiências anteriores, traumas, tudo que eu não queria era me relacionar com os irmãos. Expor minhas fraquezas, minhas dificuldades, minhas lutas. “Eu posso fazer isso sozinho, Deus está comigo”, pensava eu. Ledo engano. Porque o que nós mais precisamos é nos relacionarmos com os irmãos. Porque isso é ser Igreja. Deus opera em nós e através de nós.

Não é possível ser Igreja se não tivermos, principalmente, amor. Até os milagres que Jesus fazia, ele os fazia por amor. Ele não multiplicou os pães para provar que era poderoso, mas porque teve compaixão daquele povo que o seguia há três dias (Marcos 8). E assim era quando ele curava cegos, ou leprosos ou aleijados. Ele ressuscitou o filho de uma viúva em Naim porque se compadeceu dela (Lucas 7). O amor de Deus opera em nós e através de nós.

Nós não somos perfeitos, pelo contrário, estamos sendo aperfeiçoados. Somos apenas homens e mulheres que carecem da Graça de Deus. Mas, ao mesmo tempo, somos homens e mulheres que foram chamados para as boas obras, convidados a amar como “Ele nos amou”.

Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.Efésios 5 : 1-2 

“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus está em nós,e em nós é perfeito o seu amor. Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito." 1º João 4:9-13 

Ele é poderoso para toda boa obra, mas decidiu fazer em nós e através de nós.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Por que eu preciso da Igreja?

Em primeiro lugar é fundamental entendermos de que tipo de Igreja nós estamos falando. Não da Igreja-Templo, mas sim da Igreja-Corpo.

Igreja não é um templo feito por mãos humanas, que será o “local da benção de Deus”. Porque somos bombardeados de informações erradas que procuram “vincular” a presença de Deus a lugares “santos”. Tentando resgatar o conceito vetero-testamentário do templo como habitação de Deus. Mas nós somos o templo do Espírito Santo (cf. Ef. 6:19) e Ele não habita em templos feitos por mãos humanas (cf. At 7:48).

Esse conceito tem afastado muitas pessoas do amor de Deus. Criando apenas um vínculo religioso, uma obrigação religiosa e não uma verdadeira caminhada como cristão. Resgatando o sacerdócio nos moldes do Antigo Testamento e anulando a graça de Cristo.
No entanto, isso não significa que devemos abdicar de congregar na Igreja, como instituição. Pelo contrário, é apenas estabelecer nossa fé da maneira correta. Porque um indivíduo, sozinho, ao contrário do que muitos têm pregado, não é igreja. Todos somos parte da Igreja. Somos parte do Corpo.

Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. 1º Coríntios 12:12

“Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros, De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular."  1º Coríntios 12:25-27

Mas, é fundamental ressaltar que o Corpo de Cristo, a Igreja, são as pessoas e não os templos. O templo é apenas o local da nossa reunião, de nos congregarmos. O templo não é santo, nós é que devemos ser.

A analogia de Paulo referindo-se a Igreja como um corpo, não somente me agrada como me parece a melhor definição que tivemos. Os membros do corpo precisam e dependem uns dos outros. Ele não podem viver separados, precisam estar ligados.

Há ainda em Efésios outra definição que nos dá a dimensão disso.

“E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja,Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.”  Efésios 1:19-23

Ele, Cristo, é o cabeça da Igreja. A Igreja é o seu corpo, sua plenitude. E o que isso significa?
Plenitude é o estado do que se acha completo, inteiro, cheio. Superabundância, grandeza. Logo, concluímos que é na Igreja que se manifesta a grandeza de Deus. Ela é  a Sua plenitude. Nela se completa a manifestação do Senhor, o seu amor e o seu cuidado. E todos nós precisamos do amor e do cuidado do Senhor. Nós precisamos da Sua Igreja.

Por isso, eu preciso da Igreja.  Eu não sou igreja sozinho, sou parte de um todo, sou parte do Corpo.