Eu sou de carne e osso,
sabia? Eu sinto dor, angústia, tristeza. As vezes, eu me magôo e até perco a
esperança. Enfim, eu sou uma pessoa normal. Tenho dias bons e dias ruins.
Alguns dias, tudo se encaixa e eu fico muito empolgado. Mas, em outros... tudo
parece tão difícil que eu me desanimo. Será que isso só acontece comigo? Você
alguma vez se sentiu assim?
Talvez você não se lembre
de mim, mas no último domingo eu estava sentado ao seu lado na igreja. Eu tenho
esperança que você se lembre porque nós oramos juntos de mãos dadas quando o
pastor falou. Tudo bem que no final do culto você virou as costas e foi embora.
E nem me falou seu nome ou perguntou o meu. Como você diz que ora por mim, mas
nem se interessa em saber quem eu sou ou que estou passando?
Mas, no próximo domingo
eu estarei de novo na igreja. E, se eu me sentar ao seu lado espero que se
lembre de mim e que possa fazer que eu não me sinta “invisível”. E que no final do culto você possa me dar um
sorriso sincero e me chamar de irmão. Mas, que isso seja verdadeiro e não um
costume da igreja.
Esse texto é, de certa
forma, hipotético. Não se trata de um personagem real, no entanto bem que
poderia ser. Porque não é exatamente isso que temos visto em muitas de nossas
igrejas? Quantos irmãos “invisíveis” tem frequentado nossas igrejas? Quantas
vezes nós ficamos tão envolvidos com nossos próprios problemas e esquecemos que
tem gente sofrendo perto de nós. Quantas vezes nossa oração se torna apenas um
ritual vazio em uma reunião que nem me atrai?
E quantas vezes nós mesmos estamos
sofrendo e procurando nos passar por fortes porque “se eu falar das minhas
fraquezas vão achar que eu não tenho fé”. Chega de viver de aparências!
Igreja não é lugar de
personagens, nem uma terra de faz-de-conta. Não é um mundo encantado em que
tudo dá certo e quando eu saio de lá eu volto para o mundo real. A Igreja é um
povo que se reúne para glorificar o nome do Senhor e para comungar da sua fé.
Igreja é o lugar de gente
doente, sofrida, discriminada, angustiada e até esquecida mas que tem no seu convívio
e no partilhar do pão a sua fé renovada.
E o amor de Deus se manifesta no nosso amor uns pelos outros.
Igreja é lugar de gente. E
gente imperfeita, que erra, que falha e que precisa da graça de Deus. É lugar
de gente fraca, que tem a sua força na Graça do Senhor. É o lugar de alegrar-se
com os que se alegram e de chorar com os que choram (cf. Rm 12.15).
Mas, tudo isso começa quando
eu entendo que posso sim, sofrer, chorar, me angustiar. Quando eu entendo que
eu sou de carne e osso, e estou sujeito às mesmas dificuldades e desventuras
que qualquer outro, pois o sol se levanta sobre os bons e os maus e a chuva
desce sobre justos e injustos (cf. Mt 5.45). Porque se eu me tornar insensível à
minha dor, como poderei me sensibilizar com a dor do meu irmão?
Igreja é lugar de gente!
Nenhum comentário:
Postar um comentário